PITANGA E MUSSELINO
ABRANTES
Pitanga e Musselino
São amigos sem iguais
Dos bordéis e lupanares.
“Pito, cachaça e mulheres”,
Comenta-se nestes locais,
“Não há do que gostem mais”.
Para ganhar o sustento
Da habitual cachaçada,
Da “muié e dos rebento”,
Pitanga, o mais abonado,
Dono de bom galinheiro,
Gabava-se com Musselino:
“Enquanto a penosa cantar,
Pago a conta do bar”
Musselino pensativo
Via seu bolso minguar,
E logo se apercebia
Que sem vivo dinheiro
Não iria assegurar
A aguardente do dia,
Pois nenhum taberneiro
Fiado lhe venderia
Sem que desse em garantia
Um mísero galináceo,
Como no caso, o Pitanga,
Provia de seu aviário.
Musselino, certo dia,
Vendo Pitanga bebaço,
Abraçado à uma vadia
De generoso regaço,
Louvou-lhe a regalia
De fruir tanta luxúria,
Enquanto, ele pensava,
As galinhas do amigo,
Delas ninguém cuidava.
Com toda diplomacia,
Fazendo-se camarada,
Não permitiu controvérsia:
“Eu mesmo olho as frangas
Enquanto o amigo fornica”.
E assim foi-se firmando
Aquela fiel parceria;
Enquanto o Pitanga fodia,
Musselino ia criando
Sua própria granjaria.
A boa mulher do Pitanga,
Mesmo sabendo da fama
Que o marido ostentava,
De grande atleta da cama,
Não reclamava do “home”,
Pois ninguém na sua casa
Dormia uma noite com fome.
Feijão, arroz e farinha,
Todo dia sempre havia,
E uma vez por semana
Comia-se uma galinha.
Vai que num certo dia,
Chegando em casa mamado
Trazido por Musselino,
Ouviu da própria mulher
O seguinte desatino:
“Ô Peste! ‘Disconjurado!
Diabo te faça mofino!”
Que já não há uma canja
Prá alimentar os “minino”.
A mulher tão furiosa
Estava com o marido
Que da casa o pôs afora
Deixando-o ao desabrigo.
Musselino percebeu
Seu plano posto em perigo
E para salvá-lo, na hora,
Levou o bêbado amigo
Ao galinheiro vazio.
Tonto como um pião
Mal sabendo onde estava,
Ouviu a opinião
De quem o amparava:
“Ingrata mulher a tua.
Deus me dê a desgraça
Se não vejo no poleiro,
Tanta galinha de raça.”
Os olhos arrevirados
E a mente entorpecida,
Pitanga foi convencido
Da injustiça lavrada,
Quando ouviu ao seu lado
Cocoricar a galinhada.
Num canto, bem agachado,
Em inspirada zoeira,
Cacareja Musselino,
Qual galinha poedeira