A CAIXA MÁGICA
LUIZ F. M. LIMA
Elenco
Prof. Barbeitos – Cientista e inventor da pilha gravitacional ou gravipilha.
George Woods – jornalista responsável pelo noticiário internacional da WBS (World Boardcasting System).
Dr. Gary Sposito – Professor emérito da Universidade de Berlington. Membro consultor do Conselho de Segurança da ONU
Alberto Rudney – Gênio da computação.
Robertinho Brown – Matemático e colaborador do Prof. Barbeitos.
Anne Christaller – Repórter da WBS.
O Primeiro Ministro
Lorde Almirante Wellington – Chefe do Estado Maior das Forças Especiais da ONU.
General Fergunsson – Chefe do Serviço de Inteligência das Forças Especiais da ONU.
Capitão Belfort – Capitão do HMS Conqueror.
1o Oficial do HMS Conqueror.
Gordon Hut – Editor chefe da WBS
Tenente de Souza: Oficial do HMS Conqueror
Um marinheiro
Um taifeiro
TEMA MUSICAL E CRÉDITOS.
SONS DE UMA ESTAÇÃO DE RÁDIO; BARULHO DE TECLADOS DE MÁQUINAS; VOZES. VINHETA MUSICAL DO BOLETIM DE NOTÍCIAS DA WBS.
George Woods: Bom dia! Este é o Boletim de Notícias da WBS e eu sou George Woods. Uma flotilha militar internacional está a caminho do Rio de Janeiro. A ação ocorre a pedido de muitos países como uma resposta a uma série de estranhos eventos que vêm ocorrendo ao redor do mundo, todos eles relacionados com grupos de pessoas desta cidade sul-americana.
Para tentar nos explicar o que está acontecendo convidamos o Dr. Gary Sposito, Professor titular do Departamento de Física Fundamental da Universidade de Berlington e também consultor do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Bem vindo ao nosso programa, Dr. Sposito.
Dr. Gary Sposito: Bom dia Sr Woods e ouvintes.
George Woods: Dr. Sposito, um enorme estardalhaço está ocorrendo com este assunto sobre o Rio de Janeiro, mas eu não sei se alguém, incluindo autoridades e políticos, pode explicar exatamente o que está acontecendo. Poderia nos falar o que fez as Nações Unidas decidirem por uma ação militar?
Dr. Gary Sposito: Bem, Sr. Woods, e prezados ouvintes, na verdade ninguém sabe exatamente o que está acontecendo. Não é realmente um assunto estritamente militar. Não parece haver aspectos políticos ou religiosos nas circunstâncias. É de certa forma uma ameaça econômica.
George Woods: O Sr. acha que alguns acontecimentos recentes nos quais cidadãos do Rio invadiram subitamente muitas cidades do mundo, determinaram esta decisão radical das Nações Unidas?
Dr.Gary Sposito: Sem dúvida. De fato esta é a causa principal. Veja, não foi só em Londres que tais coisas estranhas aconteceram, mas por todo o mundo. Eu acho que o furto das jóias da coroa foram a gota d’água.
George Woods: Houve também a pilhagem da Galeria Lafayette em Paris.
Dr. Gary Sposito: E as imensas filas na Disneyworld, todas envolvendo cidadãos do Rio.
George Woods: São coisas deveras muito misteriosas. Houve algum ferido?
Dr. Gary Sposito: Tanto quanto eu sei ninguém se feriu, mas algumas situações muito preocupantes ocorreram como a prisão de um grupo de cariocas em Tóquio. Eles desapareceram da prisão sem deixarem traços.
George Woods: Dr. Sposito, embora o governo do Rio negue qualquer responsabilidade, não poderia isto ser uma espécie de operação encoberta? Como pode um monte de pessoas viajar ao redor do mundo sem serem percebidas pelas companhias aéreas e as autoridades da imigração? Como podem ir para literalmente qualquer lugar tão facilmente quanto pegar um taxi?
Dr. Gary Sposito: Esta é a parte mais intrigante. O governo do Rio aparentemente está dizendo a verdade. É um fenômeno sem precedente e as conseqüências são tão perturbadoras que a comunidade internacional decidiu intervir. Elas estabeleceram uma espécie de quarentena no Rio de Janeiro até que se entenda melhor tal fenômeno e se ganhe tempo para saber como controlá-lo. Coincidentemente o Conselho de Segurança das Nações Unidas terá um encontro hoje, em Londres, para discutir o assunto. Eu estarei lá.
George Woods: Obrigado Dr. Sposito por ter gentilmente respondido nossas perguntas.
Dr. Gary Sposito: Eu que agradeço.
George Woods: Encerramos nossa entrevista lembrando aos nossos ouvintes a acompanharem os acontecimentos através do nosso boletim de notícias da noite. Bom dia.
VINHETA DE ENCERAMENTO DO PROGRAMA TRANSFORMANDO-SE EM MÚSICA INCIDENTAL.
Narrador: Nesta mesma hora, no Rio de Janeiro, numa casa no topo de uma de suas lindas montanhas, Robertinho Brown conversa com Alberto Rudney.
Robertinho Brown: Eu chamei você, Rudney, porque estou com um enorme problema. Alguma coisa muito errada aconteceu com o programa de computador que o Professor Barbeitos e eu desenvolvemos para controlar o transporte gravitacional.
Alberto Rudney: Oh! Sim, eu percebi que, afinal, o Professor Barbeitos levou esta idéia adiante.
Robertinho Brown: Claro… E eu estou um tanto envergonhado que não tenhamos buscado a sua ajuda. Seria lógico, pois afinal você foi o responsável pelo programa de controle da pilha gravitacional, que é a base de tudo. Na ocasião ele estava num frenezi para avançar no projeto e decidiu programar tudo ele mesmo. Eu o ajudei como pude e já há dois meses, como pode perceber, todos que têm a pilha também estão habilitados a usarem o transporte gravitacional.
Alberto Rudney: Sem dúvida! Eu mesmo tenho viajado um bocado por todo o mundo. Eu e a maioria do povo do Rio.
Robertinho Brown: Este é o grande problema. Nós tínhamos a intenção de permitir o teletransporte somente nos limites da cidade, como fizemos com a energia da pilha gravitacional.
Alberto Rudney: Alguma coisa saiu do controle… Eu entendo.
Robertinho Brown: Sim, por Deus! Não consigo atinar o que aconteceu com o programa.
Alberto Rudney: Pois vou lhe dizer! Eu e meus amigos temos tido a maior boa vida com isto. Viajamos em dois meses o que não faríamos numa década. Posso imaginar os problemas que isto trouxe. Na verdade me intriga como o Prof. Barbeitos, sempre tão cuidadoso, estendeu tal propriedade à pilha gravitacional. Eu mesmo presenciei alguns comportamentos bem constrangedores de alguns patrícios.
Robertinho Brown: Jesus Santo, Nem me fale. Eu mal durmo ouvindo os estragos que estes doidos estão causando.
Alberto Rudney: O que diz o Prof. Barbeitos sobre isto?
Robertinho Brown: Nada.
Alberto Rudney: Como nada? Ele não está preocupado?
Robertinho Brown: Não. Ele está em algum lugar.
Alberto Rudney: O que você quer dizer com “em algum lugar”?
SILÊNCIO. A MÚSICA SUBLINHA AS PALAVRAS.
Robertinho Brown: Ele desapareceu.
Alberto Rudney: O que?
Robertinho Brown: É. Foi por isto que o chamei. Duas coisas. Primeiro eu preciso que você me ajude a consertar o programa e segundo tentarmos achar o Prof. Barbeitos.
Alberto Rudney: Peraí. Conte-me tudo, tintin por tintin. Como foi que o Prof. Barbeitos desapareceu?
Robertinho Brown: Logo após anunciarmos o uso da gravipilha como teletransportador.
O Prof. Barbeitos disse-me que tinha de viajar para realizar algumas experiências que melhorariam seus conhecimentos sobre o controle da gravidade. Na manhã seguinte tomamos o café da manhã juntos e ele foi para o laboratório “ajeitar alguns detalhes para a viagem”, como me disse. Eu achei melhor ir às corridas de cavalos, pois um amigo meu me dera algumas barbadas….
AS VOZES VÃO SUMINDO, O JARGÃO MUSICAL SOBRESSAI COM SONS DE UM ESTÚDIO DE RADIODIFUSÃO.
Narrador: No escritório de George Woods, uma bela repórter de campo, Anne Christaller, que trabalhara no Rio por longo tempo, está sendo instruída por ele.
George Woods: Anne, esta é uma reportagem de primeira. Aqui está o resultado vindo do Departamento de Pesquisas. Leia-o com calma.
Anne Christaller: Já o li. É muito intrigante.
George Woods: O que mais lhe chamou a atenção?
Anne Christaller: Se eu entendi bem algum cientista meio louco do Rio de Janeiro inventou algo que pode pôr o mundo de cabeça para baixo.
George Woods: Já o pôs, melhor dizendo.
Anne Christaller: Ah, sim se levarmos em conta os episódios recentes, entretanto, o mais interessante é que ninguém sabe exatamente o que é esta invenção. Os mais proeminentes cientistas ou estão céticos ou espantados pelos fatos.
George Woods: Exatamente! Eu mesmo verifiquei cada fonte de informação e tudo que obtive foram palpites e evasivas.
Anne Christaller: Seria possível que este Prof. Barbeitos tenha tido acesso a algum segredo e o revelado de propósito?
George Woods: Também pensei nisto, mas não encontrei nenhuma pista. O Prof. Barbeitos é um desconhecido da ciência, e mesmo em seu país ninguém nunca ouviu falar dele, exceto no dia em que apareceu num espetáculo de TV muito popular para divulgar sua pilha gravitacional.
Anne Christaller: Uma espécie de maluco.
George Woods: Todos acharam isto na ocasião.
Anne Christaller: E o que você quer que eu faça?
George Woods: Encontrá-lo.
Anne Christaller: Você está brincando!
George Woods: Em absoluto. É a única forma de descobrir o que está acontecendo. Cada serviço de inteligência no mundo está procurando por algum cientista maluco desertor. Eu estou apostando numa alternativa mais simples, de que ele seja exatamente o que disse que era. Um solitário cientista com uma sorte incrível.
Anne Christaller: E como você pensa em encontrá-lo?
George Woods: Indo até o Rio de Janeiro.
Anne Christaller: Mas…
George Woods: Sem “mas”. Eu sei o que você está pensando; que todos os vôos para o Rio estão suspensos. Eu sei também que você tem muitos amigos lá, afinal você viveu naquela cidade por mais de dez anos. Chame um de seus amigos para pegá-la aqui.
Anne Christaller: Você quer dizer usando esta tolice que eles chamam de teletransporte?
George Woods: Sim.
Anne Christaller: Estou fora!
George Woods: Não! Você não está!
Anne Christaller: Pois pode apostar que sim!
George Woods: Que seja. Mas pense quando souber que outro jornalista ganhou a glória que poderia ser sua. Eu posso ver as manchetes: “Jornalista entrevista o inventor da máquina mais incrível do milênio”.
MÚSICA INCIDENTAL.
Anne Christaller: Deixe-me pensar um pouco, Woods.
George Woods: Você não conhece mais ninguém por lá?
Anne Christaller: Sim, mas o que você está me pedindo…
George Woods: Quem mais poderia fazê-lo?
Anne Christaller: Eu conheço uma pessoa, chama-se Rudney. Estou certa que ele poderia me ajudar.
George Woods: Perfeito. Chame-o imediatamente.
Anne Christaller: Eu acho que você está louco. Vou topar a parada e nós dois vamos terminar num hospício.
TEMA MUSICAL.
Narrador: Anne Christaller finalmente concordou em ir para o Rio de Janeiro. Nos dias que se seguiram ela entrou em contacto com Rudney.
MÚSICA MILITAR QUE DIMINUI ENQUANTO O NARRADOR FALA..
Enquanto isto, no Quartel General do Estado Maior das Forças Especiais da ONU, em Londres, o Conselho de Segurança discute a crise. O Primeiro Ministro fala para uma audiência e dá a palavra para o Comandante do Serviço de Inteligência das Forças Especiais das Nações Unidas, General Fergunsson.
O Primeiro Ministro: General Fergunsson, por favor, diga-nos das conclusões do serviço de inteligência.
General Fergunsson: Obrigado, Excelência. Senhoras e Senhores, o que eu irei lhes explicar é a mais espantosa descoberta feita pelo homem e que deveria ser motivo de alegria, mas desafortunadamente, como às vezes o destino brinca conosco, veio através de uma mente muito perturbada, embora se deva dizer, brilhante. Estou falando do controle da gravidade.
HÁ UM RUMOR PELA SALA..
O fenômeno por detrás de todas as perturbações que temos visto nos dez meses passados, particularmente nos últimos dois deve-se à pilha gravitacional do Prof. Barbeitos.
MAIS RUMORES.
Como ela funciona que explicações científicas podemos dar para o seu desempenho e, acima de tudo, porque não descobrimos isto primeiro? Como perguntam alguns de meus colegas: “Como um obscuro cientista, numa remota cidade tropical, sem os meios adequados chegou a tal resultado”?
Tudo que podemos dizer é: Não sabemos! Eu gostaria de perguntar ao Prof. Sposito, que vocês bem conhecem para nos explicar, numa forma simplificada o que é este instrumento.
Prof. Gary Sposito: Obrigado, General. Bem, tudo que eu posso dizer é que não tenho a menor idéia de como esta coisa funciona. Mas funciona.
AUMENTA O RUMOR NA SALA, VOZES RECLAMAM.
General Fergunsson: Desculpe-me Prof. Sposito. Não há nada que a ciência possa nos dizer?
Prof. Gary Sposito: Ah, sim, claro, mas o senhor terá de perguntar ao próprio Prof. Barbeitos. Ele está tão à frente de todos nós que me sinto como um estudante do primário, aliás, eu não concordo que ele tenha uma mente pervertida…
SUA FALA FOI INTERROMPIDA POR VOZES DE PROTESTO; ALGUÉM PEDE ORDEM E SEGUE-SE UM SILÊNCIO.
Sim, eu insisto e atrevo-me a dizer que é uma mente muito clara e prudente.
MAIS PROTESTOS.
…levando em conta a maneira que ele apresentou sua invenção à sociedade. Incrível! Creio que deveríamos tentar contactá-lo imediatamente.
ALGUNS GRITOS DE PROTESTO.
O Primeiro Ministro: Prof. Sposito, Lorde Almirante Wellington, Comandante das Forças Especiais das Nações Unidas deseja falar.
Lorde Almirante Wellington: Obrigado Excelência. Eu discordo inteiramente do Prof. Sposito. Este tal de Barbeitos é um homem com uma mente muito perturbada. Eu diria mais, é um terrorista, um anarquista tentando destruir nossa sociedade. Se tudo isto não for interrompido as conseqüências são inimagináveis. É intolerável ver hordas de selvagens saquearem o Palácio da Rainha usando aqueles trajes ridículos de carnaval tocando aqueles tambores…
Prof. Gary Sposito: O senhor está sendo mesquinho Senhor.
Lorde Almirante Wellington: Como se atreve?…
NA CONFUSÃO DE VOZES ALGUÉM PEDE SILÊNCIO.
Prof. Gary Sposito: Eu peço desculpas Senhor, mas se o Senhor me permite vamos falar sobre realidades. Este Prof. Barbeitos, a quem nós na verdade nem sabemos ao certo se é uma pessoa real, não usou sua invenção, até onde sabemos, para conquistar, pilhar ou humilhar quem quer que fosse, pelo contrário, deu à humanidade uma inacreditável ferramenta que nos livra dos constrangimentos da energia escassa. Ë a coisa mais maravilhosa que aconteceu desde que Prometeu nos deu o fogo dos céus!
O RUMOR AUMENTOU COM EXCLAMAÇÕES EXASPERADAS; UM CHAMADO À ORDEM TROUXE SILÊNCIO.
Lorde Almirante Wellington: É uma ameaça! Eu reafirmo. O Banco de Londres foi saqueado, assim como Fort Knox nos Estados Unidos.
Dr. Gary Sposito: Devolveram cada centavo até onde eu sei…
Lorde Almirante Wellington: É um despiste. Um aviso do que eles serão capazes. Eles logo nos atacarão sem piedade. Precisamos detê-los de uma vez!
SOCANDO A MESA.
Usando todas as nossas forças se necessário for, e eu estou falando pelas Nações Unidas que estão conosco.
Dr. Gary Sposito: O senhor que dizer que se o segredo da gravipilha não for revelado o Rio de Janeiro pode ser atacado?
Lorde Almirante Wellington: Exatamente. Este Prof. Barbeitos não existe. É uma conspiração internacional de forças inimigas para tomar o poder e destruir civilização ocidental.
Dr. Gary Sposito: Quem, quando, onde?
UMA CONFUSÃO SE INSTALA, A AUDIÊNCIA DEBLATERA SEM NENHUMA ORDEM.
O Primeiro Ministro:
BATENDO NA MESA E QUASE GRITANDO.
Por favor, senhores, voltemos à discussão principal. Eu entendo as preocupações de Lorde Almirante Wellington, embora em todos estes meses não tenha havido qualquer evento que possa ser considerado uma ameaça nacional, à despeito desta inundação de turistas do Rio de Janeiro. Por favor, Prof. Sposito, continue nos informando sobre esta gravipilha tanto quanto possa.
Dr. Gary Sposito: Temos algumas teorias sobre isto, mas vou poupá-los dos detalhes técnicos. Cerca de dez meses atrás, como sabemos, ouviu-se falar deste dispositivo pela primeira vez. Então, há dois meses a atividade de teletransporte começou. O que significa isto? Energia gratuita em qualquer quantidade permanentemente, a princípio, e após, transporte gratuito para qualquer um e para qualquer lugar. Obviamente a indústria de energia entrou em colapso lá no Rio de Janeiro, assim como os transportes e outras facilidades. Estranhamente esta gravipilha só funciona como fonte de energia nos limites da cidade do Rio de Janeiro, por outro lado, parece que para o teletransporte a ação é global. Os governos em todo o mundo já mostraram preocupação na medida em que as bolsas de valores oscilam de forma imprevisível. Eles estão pressionando pela intervenção para protegerem suas indústrias.
VOZES GRITAM SIM E NÃO. ALGUÉM PEDE ORDEM.
Voz: O Primeiro Ministro irá falar!
SILÊNCIO POR ALGUNS SEGUNDOS.
O Primeiro Ministro: Eu concordo parcialmente com ambos. Lorde Almirante Wellington está certo quando aponta a ruptura do nosso sistema econômico do jeito que as coisas vão. Estamos vendo lojas serem saqueadas, bancos sendo roubados e criminosos resgatados de suas prisões, e todas estas coisas que temos ouvido. Por outro lado não identificamos qualquer beligerância de nenhuma nação, grupo étnico, religioso ou do crime organizado. Não posso dizer se isto é bom ou mal, mas parece que a responsabilidade é de algum grupo restrito. Estamos tomando medidas enérgicas para controlar a situação. General Fergunsson, por favor, leia o comunicado proposto para ser considerado por este comitê.
A AUDIÊNCIA SE AGITA. O GENERAL LIMPA A GARGANTA E FALA.
General Fergunsson: “O Conselho de Segurança das Nações Unidas considerando os recentes e lamentáveis episódios envolvendo os cidadãos do Rio de Janeiro, por toda parte do mundo, e no intuito de preservar a comunidade internacional de maiores perturbações, até que a situação esteja sob controle, decidiu que:
Não será permitido a qualquer cidadão daquela cidade ficar fora dos limites dela e aqueles que no momento se encontram em outras paragens devem imediatamente dirigir-se à autoridade mais próxima a fim de serem reenviados para sua terra natal. Também se decidiu que qualquer equipamento denominado “gravipilha” ou similar deverá ser confiscado pelas autoridades locais”.
VOZES A FAVOR E CONTRA.
O Primeiro Ministro: Penso que não podemos nos recusar a subscrever o comunicado. Em alguns dias uma frota internacional capitaneada pelo porta-aviões britânico HMS Conqueror, chegará ao Rio. Enquanto isto devemos avaliar a situação para posteriores decisões. Eu temo pelas conseqüências, elas podem ser muito desagradáveis. Obrigado Senhoras e Senhores, a reunião está encerrada.
UM ENORME BURBURINHO TOMOU CONTA DA REUNIÃO. O BARULHO SE ESVANECE ENQUANTO VOZES E SONS DE UMA ESTAÇÃO DE RÁDIO SURGEM. AS ÚLTIMAS PALAVRAS DO COMUNICADO SÃO OUVIDAS NA VOZ DE GEORGE WOODS. ELE DÁ BOA NOITE AOS OUVINTES E ENTRA A VINHETA MUSICAL DO NOTICIÁRIO QUE MUDA PARA A MÚSICA INCIDENTAL DO RIO.
Narrador: Alberto Rudney e seu amigo Robertinho Brown estão em seu abrigo secreto no topo de uma das montanhas que circundam o Rio de Janeiro. Eles lutam para corrigir o defeito no programa da gravipilha que permitiu o teletransporte para toda parte.
Alberto Rudney: Achei o problema!
Robertinho Brown: Ótimo! Diga-me então aonde falhamos.
Alberto Rudney: Eu diria que foi um erro prosaico.
Robertinho Brown: É?
Alberto Rudney: Vê esta instrução do programa? Aqui vocês estabeleceram os limites do teletransporte pela pilha.
Robertinho Brown: Sim. São simples coordenadas cartográficas.
Alberto Rudney: Está certo, exceto por uma coisa.
Robertinho Brown: O que?
Alberto Rudney: Elas operam somente em um plano, a superfície. Funciona bem para o suprimento de energia, mas…
SILÊNCIO. ENTÃO ROBERTINHO BROWN COMEÇOU A RIR.
Robertinho Brown: Oh, Jesus! Que tolice! Claro. Esquecemos que a gravidade funciona em três dimensões. Não pusemos um limite acima ou abaixo do solo. Daí porque ela pode transportar para qualquer lugar.
Alberto Rudney: Tudo que precisa ser feito é estabelecer coordenadas para cima e para baixo e tudo funcionará apropriadamente.
Robertinho Brown: Oh, Oh! Nós merecemos um soco no nariz… Bem, vamos consertar isto.
Alberto Rudney: Negativo! Há um outro problema. Adivinha?
MAIS SILÊNCIO E A VOZ DE ROBERTINHO BROWN MURMURANDO.
Robertinho Brown: Mmm!… Oh, oh! Espera. Você está certo. Não podemos fazê-lo agora.
Alberto Rudney: Vocês mexeram numa coisa que não é fácil consertar.
Robertinho Brown: Deus Poderoso! Isto é sério.
PAUSA.
Alberto Rudney: É isto aí. Temos agora mais de um milhão de pessoas oriundas do Rio que estão fora da cidade e outro milhão que são de fora está aqui. Se fecharmos o teletransporte haverá uma catástrofe Não há mais serviços para suprir a cidade. Não há água, nem transporte, nem energia. Eu mesmo estou jogando o lixo na cratera do vulcão Etna e me abastecendo de água diretamente dos rios do Himalaia. Como todas estas pessoas poderão ser repatriadas?
Robertinho Brown: O que faremos então? As forças internacionais estão batendo às portas.
Alberto Rudney: Temos de negociar. Precisamos ganhar tempo, talvez contactá-los…
Robertinho Brown: Temos de esperar o Prof. Barbeitos. Só ele sabe como operar adequadamente a gravipilha.
Alberto Rudney: Não podemos esperar por ele, temos de fazer algo já. Você já viu a quantidade de telefonemas de todo o mundo reclamando sobre o mau uso da gravipilha? Sem falar na imprensa.
Robertinho Brown: Podemos usar um jornalista para um comunicado pedindo uma espécie de acordo.
Alberto Rudney: Mas a quem escolheríamos?
Robertinho Brown: Realmente não sei. Deve ser alguém confiável.
Alberto Rudney: Vamos ver nos endereços da nossa caixa postal do computador se há alguém com este jeito.
SILÊNCIO. SONS DO COMPUTADOR. MURMÚRIOS DOS DOIS AMIGOS.
Robertinho Brown: Há uma mensagem recorrente, a cada hora, de uma jornalista britânica. Ela menciona o seu nome dizendo que o conhece. Como saberia ela que você está neste negócio?
Alberto Rudney: Deixe-me ver. Ah! É a Anne. Somos amigos de longa data. Ela é realmente uma excelente pessoa. Talvez devamos contactá-la.
Robertinho Brown: Isto. Não podemos perder nenhuma chance.
SOM DE TELEFONE CHAMANDO. ALGUÉM RESPONDE.
Anne Christaller: Alô?
Alberto Rudney: Anne?
Anne Christaller: Sim?
Alberto Rudney: Sou eu, Rudney. Como vai você?
Anne Christaller: Pelos Céus, você respondeu. Temos de nos falar imediatamente.
Alberto Rudney: Vá falando.
Anne Christaller: É melhor que seja pessoalmente.
Robertinho Brown:
SUSSURRANDO.
Vai em frente, seja amistoso.
Alberto Rudney: Ok. Seria ótimo afinal revê-la. Diga-me onde você está agora?
Anne Christaller: In Londres. Rudney, sempre fomos bons amigos, não é? O que eu quero lhe perguntar é muito pessoal, mas gostaria que você levasse em conta nossa amizade ao responder-me.
PAUSA
Você sabe alguma coisa sobre este assunto da gravipilha?
Alberto Rudney: O que você quer dizer?
Anne Christaller: Olha, eu estou fazendo a cobertura sobre esta crise para a WBS. Eu e muitos outros jornalistas, pessoas em quem podemos confiar e que estão muito preocupadas com os rumos das coisas. Se você sabe qualquer coisa que seja, por favor, me diga.
PAUSA
Alberto Rudney:
HESITANDO.
Talvez.
Anne Christaller: Você me encontraria?
Alberto Rudney: Está certo, eu posso encontrá-la
Anne Christaller: (suspiro de alívio) Suponho que você esteja a par dos últimos acontecimentos?
Alberto Rudney: Sobre o ultimato? Oh, sim. Quem não está? O que a fez pensar que eu tenha alguma coisa a ver com a gravipilha?
Anne Christaller: Um palpite. Eu e meu editor, George Woods, queremos fazer uma grande reportagem sobre a crise para a rede WBS. Estamos atentos à seriedade da situação e desejávamos fazer algo para refrear os espíritos beligerantes espalhados por toda parte. Para isto precisamos combater a desinformação. Devemos dizer ao povo qual é a situação real.
PAUSA
Alberto Rudney: Posso estar com você logo, logo. Que tal me encontrar no Hyde Park em meia hora?
Anne Christaller:
SURPRESA.
Claro! Estarei lá. Não se preocupe manterei segredo. Tchau.
SOM DE TELEFONE SENDO DESLIGADO.
Alberto Rudney: Lá vou eu, Robertinho. Preciso das coordenadas do Hyde Park. Vejamos no mapa do computador.
Robertinho Brown: Aqui estão! Digite-as na sua gravipilha. Tem tempo ainda
Alberto Rudney: É melhor ir logo, nunca se sabe… Vejo-o mais tarde.
SOM DE BAIXÍSSIMA FREQÜÊNCIA SEGUIDO POR UM “ZAP” COMO SEDA SENDO RASGADA.
SONS DE VOZES, CARROS E TRANSEÚNTES. TEMA MUSICAL ENQUANTO OUVE-SE PASSOS DE ALGUÉM SE APROXIMANDO. VOZ DE ALBERTO SAUDANDO, ABRAÇOS E BEIJOS. OS SONS DA RUA FICAM EM SURDINA ENQUANTO ELES DIALOGAM ATÉ QUE SEJA ASSINALADO PARA CESSAREM.
Alberto Rudney: Anne, você está bonita como sempre.
Anne Christaller: Tanto quanto você.
Alberto Rudney: Bem, aqui estou. O que está havendo?
Anne Christaller: Você não respondeu minha pergunta. Sabe alguma coisa sobre esta gravipilha?
Alberto Rudney:
CALMAMENTE, COM UMA VOZ GRAVE.
Você supôs corretamente. Eu sei alguma coisa.
SONS DE SUSPIROS E ALEGRIA VINDOS DE ANNE.
Eu trabalhei para eles no programa de computador para o desenvolvimento da gravipilha.
Anne Christaller: Quem são eles?
Alberto Rudney: Prof. Barbeitos, o que apareceu na TV alguns meses atrás anunciando a distribuição da gravipilha, e Robertinho Brown, matemático assistente dele, eu diria, um gênio.
Anne Christaller: Onde estão? Podemos falar-lhes? Precisamos conversar com o Prof. Barbeitos imediatamente.
Alberto Rudney: Impossível. Ele desapareceu.
Anne Christaller: Oh, céus! Ele está morto?
Alberto Rudney: Não sabemos. Ele simplesmente desapareceu logo após anunciar o teletransporte.
Anne Christaller: E este outro, Robertinho Brown? Podemos falar com ele?
Alberto Rudney: Pode ser
Anne Christaller: Por favor, consiga.
Alberto Rudney: ‘Tá certo, mas temos um problema.
Anne Christaller: Qual é o problema?
Alberto Rudney: Toda esta confusão originou-se daí. O programa tinha um defeito que permitiu o teletransporte sem restrições aos limites da cidade, como inicialmente se pretendia.
Anne Christaller: É possível o conserto?
Alberto Rudney: Tecnicamente o problema está resolvido, mas na verdade não sabemos o que fazer com as conseqüências.
Anne Christaller: Espere. Você está me dizendo que não estão controlando a gravipilha. Que ela está numa espécie de automático? Isto é terrível!
Alberto Rudney: Não exatamente. O sistema de computadores do Prof. Barbeitos é incrivelmente avançado e suas possibilidades são inimagináveis. Temos outro tipo de problema, mas acho que devemos falar com Robertinho. Você terá de vir comigo até o Rio para encontrá-lo.
OS SONS DA RUA PARAM.
Anne Christaller: Pois vamos. Só estou um pouco com medo de usar esta coisa, a gravipilha.
Alberto Rudney: É tão fácil como acender fósforos. Primeiro há este pequeno tijolo cinza… É a gravipilha. Ponha seu dedo neste pequeno nicho… Voilá! Um mostrador. Agora, escreva sobre ele algumas coordenadas, digamos do Rio de Janeiro… Aperte este botão e…
SOM DE BAIXÍSSIMA FREQÜÊNCIA SEGUIDO POR UM “ZAP” COMO SEDA SENDO RASGADA.
Anne Christaller: Oh, meu Deus! O que é isto?
Alberto Rudney: Rio de Janeiro, mylady.
TEMA MUSICAL DO RIO.
Anne Christaller: Não posso crer! É uma ilusão, uma pintura, não é possível!
Alberto Rudney: Vê? Aqui está Londres e à sua frente o Rio de Janeiro, simples como atravessar um portão. Agora, tem este livreto com várias coordenadas de lugares interessantes no mundo. Se acontecer que você esteja em um lado da porta gravitacional e sua pilha do outro, a porta nunca fechará e a seguirá para onde você for de modo que a pilha estará sempre ao seu alcance. Não é legal isto? Suponha que você deixe sua gravipilha em algum lugar longe de seu alcance ou que leve muito tempo para alcançá-la. Sem problemas. Você será puxado de volta ao Rio junto com ela. Simplesmente perfeito. Deixe-me fechá-la agora.
SOM DE BAIXÍSSIMA FREQÜÊNCIA SEGUIDO POR UM “ZAP” COMO SEDA SENDO RASGADA.
Anne Christaller: Inacreditável! Isto não é mesmo um truque, né?
Alberto Rudney: Oh! Minha querida, você viu por si mesma. Além disto, como pode explicar que tanta gente do Rio esteja lotando os lugares por todo o planeta? Você deve ter ouvido sobre a invasão da Riviera francesa por uma leva de “cariocas”. Para não falar do Cassino de Monte Carlo que foi fechado devido a uma invasão de centenas de turistas do Rio que queriam jogar sem pagar.
Anne Christaller: Ainda assim, é incrível!
Alberto Rudney: Pois é. Temos de encontrar Robertinho Brown, ele nos espera numa linda praia. Aliás, traga uma roupa de banho de mar.
Anne Christaller: Oh. Eu não tenho nenhuma bonita. Você sabe, em Londres não temos praias como lá.
Alberto Rudney: Não importa, encontraremos algo adequado.
Anne Christaller: Não deveria levar algum bronzeador?
Alberto Rudney: Claro, eu tenho um. Vamos!
SOM DE BAIXÍSSIMA FREQÜÊNCIA SEGUIDO POR UM “ZAP” COMO SEDA SENDO RASGADA.
TEMA MUSICAL DO RIO, DIMINUINDO. ENTRA UMA NOVA MÚSICA MARCIAL QUE DIMINUI E FICA COMO FUNDO ENQUANTO O NARRADOR FALA.
Narrador: Enquanto nossos amigos se preparam para esta agradável viagem a alguma praia tropical da América do Sul, o Alto Comando Militar a bordo do porta-aviões HMS Conqueror, discute os planos de ação para o Rio de Janeiro.
SONS DE ROTINA DE UM NAVIO. MOTORES DE AVIÃO E TUDO MAIS.
Voz: Capitão Belfort, Comandante da Frota internacional das Nações Unidas.
SOM DE CADEIRAS SENDO ARRASTADAS.
Capitão Belfort: Por favor, senhores, à vontade. Gostaria de agradecer ao General Fergunsson, por ter aceitado nosso convite. Ele voou muitas horas para juntar-se a esta missão e agora irá nos falar sobre importantes informações a respeito das possibilidades de nossos inimigos. Por favor, Gen. Fergunsson.
General Fergunsson: Obrigado, Senhor. Nós devemos estar preparados para lutar contra um oponente formidável, que possui uma arma poderosíssima e a intenção de usá-la da maneira mais ameaçadora possível. Precisamos estar alertas 24 horas por dia porque….
SOM DE ALARME, BARULHO DE VOZES EM ALERTA, PASSOS APRESSADOS, TIROS, A PORTA DA SALA DE COMANDO É ABERTA BRUSCAMENTE E ALGUÉM GRITA.
Voz: Capitão, estamos sendo invadidos!
Capitão Belfort: O que? Como invadidos?
Voz: Encontramos dois estranhos nos hangares!
Capitão Belfort: Vamos para a ponte de comando.
UM BURBURINHO COM SONS DE CADEIRAS ARRASTANDO E VOZES. SONS DE PESSOAS CORRENDO E GRITANDO ORDENS, ALARME SOANDO, APITOS E VOZES NOS INTERFONES DANDO INSTRUÇÕES.
Capitão Belfort: Aqui é o Capitão Belfort. Relate a situação.
ASSOBIO.
Voz pelo interfone: Aqui é o 1o Oficial, Senhor. Temos um prisioneiro. Ele foi capturado nos hangares.
Capitão Belfort: Traga o prisioneiro ao posto de comando imediatamente.
SOM DE PESSOAS CORRENDO E GRITANDO ORDENS, ALARMES SOANDO, VOZES NOS INTERFONES DANDO INSTRUÇÕES, ASSOBIOS, PORTAS ABRINDO E FECHANDO. OS SONS DIMINUEM E SOBRESSAI ALGUÉM GRITANDO.
Voz do estranho: Me solta, me solta. Eu tava só olhando. Juro que não fiz nada.
Capitão Belfort: Meu rapaz, você se meteu numa grande enrascada, mas se colaborar seremos generosos. Tenente de Souza tomará seu depoimento. Tenente!
Tenente de Souza: Sim Senhor!
Prisioneiro: Eu não fiz nada de mais; não roubei nada, nem encostei nos aviões, só queria dar uma olhada
Capitão Belfort: Faça-o falar! Mantenha-me informado sobre cada detalhe.
Tenente de Souza: Sim Senhor! Deixa comigo, Senhor!
Capitão Belfort: Mas não exagere, ouviu?
Tenente de Souza: Sim Senhor! Capitão! Não vou exagerar Senhor.
Capitão Belfort: Retomemos a reunião cavalheiros.
SONS DE PORTAS, PASSOS E CADEIRAS SENDO MOVIDAS.
Voz anunciando: General Fergunsson e Capitão Belfort.
Capitão Belfort: Senhores, esta interrupção reforça o que estávamos considerando sobre a ameaça do inimigo. O elemento preso estava nos hangares sabotando os aviões. Se eles podem passar despercebidos por nossa segurança podemos imaginar o dano que poderão causar. Como dizia, o General Fergunsson continuará nos explicando como combatê-los.
General Fergunsson: Obrigado, Senhor. Como lhes dizia precisamos estar alertas 24 horas por dia, porque…
ALGUÉM ABRE SUBITAMENTE A PORTA E FALA NERVOSAMENTE.
Tenente de Souza: Desculpe-me, Senhor. Lamento dizer, mas o prisioneiro desapareceu!
Todos: O que?
VOZES COMENTANDO O FATO.
Tenente de Souza: Suponho que tenha a ver com a tal de gravipilha. Ele estava algemado e subitamente, diante de todos nós abriu-se como um túnel e ele foi tragado, junto com a gravipilha. Foi incrível!
General Fergunsson: Vêem quão poderosos e perigosos eles são?
QUASE GRITANDO.
Temos de esmagá-los, agora! Devemos…
ALARME SOANDO OUTRA VEZ. VOZES GRITANDO. CONFUSÃO NA SALA.
Voz: Intruso a bordo!
SONS DE ALARME, CORRERIAS, ORDENS SENDO GRITADAS, METAIS SE CHOCANDO, LUTA CORPORAL.
Narrador: No navio de guerra HMS Conqueror a confusão se estabeleceu. O navio foi invadido por dúzias de invasores, a maioria jovens, que gritavam selvagemente, desaparecendo tão rápido quanto chegavam e, depredando tudo que encontravam à frente. No meio da confusão o General Fergunsson foi abduzido e trancado num armário. As luzes do navio piscavam. O 1o Oficial fez um chamado desesperado à frota.
SONS DE EMERGÊNCIA AUMENTAM.
1O Oficial: Emergência! Emergência! Para toda a frota! Estamos sendo atacados e dominados. Os invasores surgem inesperadamente de toda parte e estão tomando o navio. Os motores pararam. Os aviões estão sendo lançados ao mar. Nossos marinheiros estão desaparecendo. General Fergunsson foi raptado. Estamos sendo derrotados por adolescentes… Que vexame…
Voz no interfone: HMS Conqueror estamos mandando ajuda. Tente manter as posições. Câmbio.
BARULHO DE ESTÁTICA.
Voz no interfone: HMS Conqueror! estão me ouvindo? Câmbio.
SOM NO INTERFONE. VOZES.
Voz respondendo: Alô? Alô? Palhaço!
RISOS.
Voz no interfone: HMS Conqueror relate a situação. Câmbio.
VOZES GRITANDO, “QUEBRA, QUEBRA”. SOM DE MARRETADAS E CURTO CIRCUITO. MAIS GARGALHADAS. SILÊNCIO.
General Fergunsson: VOZ ABAFADA. Socorro! Tirem-me daqui. Eu sou o General Fergunsson!
Voz de um marinheiro: No armário.
PASSOS, VOZES, MARTELADAS.
Vozes: General!
General Fergunsson: Pelos céus, marinheiro. O que está acontecendo?
Voz de um marinheiro: Não sei, Senhor! Está a maior confusão. Eles aparecem como fantasmas.
General Fergunsson: Vamos até à ponte de comando!
PASSOS SUBINDO ESCADAS.
Capitão Belfort: Ah! General Fergunsson. Por Deus! O navio está sendo destruído!
APITOS. AO AUTO FALANTES ECOAM NO NAVIO.
Para todo o navio, relatem os danos.
VOZES DE TODA PARTE DO NAVIO RELATANDO OS DANOS. VÃO DIMINUINDO ENQUANTO UMA MÚSICA MARCIAL.
Narrador: O HMS Conqueror estava numa situação crítica. Quase metade da tripulação havia desaparecido. A frota veio em socorro e os helicópteros atulhavam o convés, trazendo pessoal suplementar para recompor a ordem no navio. Os danos eram menores comparados com a queda da moral da tropa. Uma reunião de emergência foi estabelecida com todos os comandantes da frota. Um relato amargo foi mandado para o almirantado em Londres. Capitão Belfort numa voz grave e preocupada dirigiu-se para os comandantes presentes.
Capitão Belfort: Senhores. Fomos humilhados por um inimigo infame. Nossas defesas são quase inúteis contra esta formidável arma. Devemos reagir urgente…
SOM DO INTERFONE COM UM CHAMADO URGENTE AO CAPITÃO.
Voz pelo interfone: Senhor, Londres na linha
Capitão Belfort: Aqui é o Capitão Belfort.
Voz: Confirmando seu relatório. USS Avenger foi atacado da mesma maneira que vocês. A frota está em alerta de combate.
SOM DO RÁDIO DESAPARECENDO. ALGUM SILÊNCIO.
Capitão Belfort: Senhores, estamos em guerra. A seus postos!
SOM DE AZÁFAMA NA SALA. SIRENES DE ALERTA POR TODO NAVIO. ORDENS SENDO DADAS. O SOM VAI DIMINUINDO NUMA MÚSICA MARCIAL E APARECE EM CRESCENDO O TEMA MUSICAL DO RIO..
Narrador: Numa agradável praia Sul Americana, após algumas horas de conversa, boa comida e passeios, Robertinho Brown, encantado explica a sua nova amiga as descobertas do Prof. Barbeitos.
Robertinho Brown: Como eu já disse, a física da invenção do Prof. Barbeitos é muito complexa e a matemática envolvida ainda mais difícil. No entanto posso tentar explicá-la usando uma espécie de paródia. Veja, nós temos a eletricidade, luz e magnetismo, que sabemos de onde vem e de fato podemos controlá-los, se não é só olhar em volta para todos as máquinas modernas que usamos. Agora, temos a gravidade. De onde ela vem? Porque não podemos controlá-la como fazemos com as outras forças da natureza?
SILENCIO. SONS DE PERIQUITOS, PÁSSAROS E ONDAS DO MAR.
Não podíamos. As descobertas e experiências do Prof. Barbeitos nos permitem controlá-la.
Anne Christaller: Você quer dizer que a gravipilha é uma espécie de equipamento de controle da gravidade?
Robertinho Brown: Exatamente.
Anne Christaller: Como pode o Prof. Barbeitos descobrir tal coisa tão complexa e nenhum outro cientista no mundo sequer chegou perto?
Robertinho Brown: Neste caso, devo reconhecer que a sorte teve um papel fundamental. Teoricamente os cientistas não estão longe do que o Prof. Barbeitos descobriu e eu formulei matematicamente. Eles apenas não foram tão bem sucedidos quanto o Prof. Barbeitos. Diria que ele tropeçou nas evidências. Quando percebeu o que havia descoberto temeu pelas conseqüências de revelar tudo. Decidiu esperar até ter maior controle sobre o processo. Foi quando pediu a ajuda de Rudney.
Anne Christaller: Poupe-me dos detalhes da física, como esta coisa funciona? Como gera energia e também o teletransporte; seria possível explicar-me?
Robertinho Brown: Posso tentar. A corrente elétrica gerada pela gravipilha é muito diferente dos processos conhecidos, onde os elétrons são arrancados de seus átomos; aqui as ondas gravitacionais da pilha os atraem e os fazem mover-se. É também esta propriedade atrativa que torna possível o teletransporte.
Anne Christaller: Não estou entendendo.
Robertinho Brown: Suponha que vivemos em um enorme queijo suíço. Há queijo e buracos. Sendo queijo não podemos ser buracos. Se fosse possível para algum queijo cair nos buracos ele poderia viajar por todo queijo sem precisar passar pelo próprio queijo. Como queijo, temos tempo e espaço; nos buracos nenhum deles. A gravidade é sentida no queijo, mas vem dos buracos e é sua força que mantém a estrutura do queijo inteiro. O que a gravipilha faz é promover a aproximação de dois pontos de queijo através dos buracos. Quando eles se tocam, coalescem, abrindo uma espécie de ponte, por onde nós passamos. Tudo que é necessário é energia suficiente para fazê-lo, o que é dado pela gravipilha. Muito simples de fato.
Alberto Rudney: A gravipilha é apenas um receptor e transmissor, como um telefone móvel. Os efeitos que elas promovem vêm do sistema central de computadores no laboratório do Prof. Barbeitos. É por isto que tudo que acontece com as gravipilhas pode ser monitorado.
Anne Christaller: Vocês não podem controlar tudo sozinhos.
Robertinho Brown: Sabemos e é por isto que estamos em apuros.
Anne Christaller: Como vocês distribuíram tantas gravipilhas por toda parte? Elas são fornecidas como biscoitos, grátis; deve haver milhões delas. De que são feitas?
Robertinho Brown: É um equipamento muito simples, feito de quartzo muito puro com uma estrutura cristalográfica muito especial, e aí é que está o segredo do Prof. Barbeitos. Para falar a verdade, se você tem o controle da gravidade pode transformar uma montanha de quartzo numa imensa gravipilha. Depois é só dividi-la em pequenos pedaços e você terá milhões delas. Prof. Barbeitos fez isso. Nós estocamos grandes quantidades delas em locais específicos no mundo. Elas são inúteis exceto se forem energizadas.
Anne Christaller: Estou sabendo muito mais sobre o assunto, mas isto não resolve o problema. Como impedir os militares a invadirem a cidade. A gravipilha pode ser usada para conter a esquadra?
PAUSA
Robertinho Brown: Ela pode destruir um navio de guerra num piscar de olhos.
A MÚSICA SUBLINHA A PAUSA
Anne Christaller: Pelos Santos, é verdade isto? Porque colocaram uma coisa tão perigosa nas mãos de milhões? Vocês não se preocupam com as conseqüências? Não é uma irresponsabilidade de vocês?
Robertinho Brown: Um minuto! Nós levamos isto em conta. A gravipilha não está habilitada para prejudicar ninguém. Tem um poder limitado.
Anne Christaller: Posso entender que o Prof. Barbeitos estivesse num dilema quando decidiu liberar as gravipilhas em benefício da humanidade, numa espécie de experimento controlado, no entanto, agora, sua querida cidade pode ser destruída. Ele teve tanto escrúpulo para nada, colocou-nos num pesadelo!
Alberto Rudney: Você está certa, num certo sentido, mas ponha-se no lugar do Prof. Barbeitos. Que faria melhor? Você manteria o segredo de seu conhecimento? A espécie humana não merece isto? Você confiaria em qualquer tipo de governo? É uma encruzilhada. Não podemos esquecer o que aconteceu com a bomba atômica.
Anne Christaller: Este homem, o Prof. Barbeitos, desapareceu quando era mais necessário. Não é isto um comportamento irresponsável? Ele poderia ter pedido a ajuda de cientistas respeitáveis.
Robertinho Brown: Eu entendo seu ponto de vista, Anne, mas o Prof. Barbeitos não é uma pessoas frívola. Ele desapareceu ou porque alguma coisa extraordinária aconteceu ou ele está envolvido em alguma descoberta. Ele costuma ser muito cuidadoso e eu mais pensaria que tenha encontrado alguma coisa muito importante. De qualquer forma precisamos agir sem esperá-lo.
Anne Christaller: Esta é uma situação muito estranha. Estou assustada, de verdade.
PAUSA A PRINCÍPIO DEPOIS TODOS CONCORDAM COM ELA.
Eu tenho uma idéia
Alberto Rudney: Qual é?
Anne Christaller: Colocar Robertinho no rádio.
Robertinho Brown: Eu?
Anne Christaller: Quem mais? O espírito de Prof. Barbeitos, talvez? Claro que você! Explicando a todos o que há pouco me disse. Precisamos de apoio do público para tentar evitar uma tragédia. As pessoas, incluindo nós mesmos, estamos usando esta incrível máquina como se fosse um brinquedo, sem atinarmos que ela pode ser mal utilizada de maneira perniciosa. Proporemos um encontro internacional da comunidade científica para explicar tudo e acharmos uma solução.
Robertinho Brown: Sou um matemático, não um físico. Há coisas que não posso explicar.
Anne Christaller: Ora, vamos; não estou sugerindo que você seja sabatinado, simplesmente que fale o que sabe para podermos abrir uma negociação. Isto nos dará tempo para acharmos este fantasmagórico Barbeitos.
Alberto Rudney: Eu acho uma boa idéia.
Anne Christaller: Como controlaremos as gravipilhas já distribuídas?
Alberto Rudney: Através do programa central de computador. Podemos restringir o uso da gravipilha e repatriar a população que está fora da cidade. Tudo que queremos é uma solução para suprir as necessidades das pessoas aqui no Rio. Isto é, comida, serviços e tudo mais que foi desmantelado.
Robertinho Brown: Se é um consenso eu aceito, mas temo que não seja fácil.
Anne Christaller: Pagamos para ver.
A MÚSICA AUMENTA DE VOLUME.
Narrador: Robertinho e Alberto voltaram para o esconderijo do Prof. Barbeitos no topo de uma das lindas montanhas que circundam a cidade do Rio de Janeiro. Anne retornou a estação da WBS em Londres para encontrar George Woods e arquitetar um plano para pôr Robertinho Brown no ar.
SOM DE BAIXÍSSIMA FREQÜÊNCIA SEGUIDO POR UM “ZAP” COMO SEDA SENDO RASGADA.
George Woods: Anne! Onde você estava? O mundo desabando e você perdeu duas edições do boletim. Onde conseguiu estas queimaduras de sol?
Anne Christaller: Andando por aí.
George Woods: Usando a danada da gravipilha, não é?
Anne Christaller: Como eu poderia conseguir as verdadeira notícias? Indo para o Rio de Metrô?
George Woods: Boa garota! É melhor que tenha realmente boas notícias ou vou entregá-la à polícia.
RINDO.
O uso da gravipilha agora é crime, sabia?
Anne Christaller: Tudo bem. Eu tenho o principal assistente de Prof. Barbeitos. Pode colocá-lo no ar quando quiser.
George Woods: Porque não o próprio Prof. Barbeitos?
Anne Christaller: Ele está desaparecido. Olha, está é uma história comprida, confie em mim, este homem Robertinho Brown, pode dar uma reviravolta em toda situação. Nós proporemos que o segredo da gravipilha seja revelado e em troca as Nações Unidas param o ataque.
George Woods: Parece bom, mas pode não funcionar e vamos todos para a cadeia. As coisas estão meio fora de controle, os líderes mundiais estão em pânico.
Anne Christaller: Você tem idéia melhor? Se não tentarmos nunca saberemos. Prá que esperar? Cristo em pessoa, talvez?
George Woods: É assim que um jornalista fala. Vamos nessa. Traga-o agora.
Anne Christaller: É prá já!
SOM DE BAIXÍSSIMA FREQÜÊNCIA SEGUIDO POR UM “ZAP” COMO SEDA SENDO RASGADA.
PORTAS SE ABRINDO E FECHANDO; SONS DO ESTÚDIO; VINHETA MUSICAL DO BOLETIM DA WBS.
George Woods: Boa tarde. Este é o boletim de notícias da WBS e eu sou George Woods.
Hoje vamos entrevistar o Sr. Robertinho Brown, um matemático do Rio de Janeiro e principal assistente do famoso Prof. Barbeitos, inventor da não menos famosa gravipilha.
Sr. Brown, boa tarde. Poderia falar aos nossos ouvintes em todo o mundo o que é a gravipilha, como funciona e quais são os seus propósitos para resolver esta crise internacional?
Robertinho Brown: Boa tarde, Sr Woods e prezados ouvintes. Com prazer eu posso explicar tudo sobre o controle da gravidade e seus usos, mas deixe-me falar um pouco da história como o Prof. Barbeitos e eu fizemos esta extraordinária descoberta…
A VOZ DE ROBERTINHO BROWN FICA NO FUNDO.
Narrador: Robertinho Brown para o espanto de todos os ouvintes descreve com detalhes o processo de controle gravitacional. Enquanto isto no laboratório do Prof. Barbeitos nos arredores do Rio de Janeiro, Anne Christaller e Alberto Rudney trabalham.
Alberto Rudney: Aqui está! Eu sintonizei as transmissões da frota. Este sistema do Prof. Barbeitos é uma beleza!
SONS DE DADOS SENDO TRANSMITIDOS, ESTÁTICA, VOZES, OSCILAÇÕES DE SOM.
Anne Christaller: Quem é?
Alberto Rudney: HMS Conqueror.
Voz do interfone: Seguem instruções detalhadas da operação Rio. Proceda em alerta de guerra…
VOZ DIMINUI E FICA DE FUNDO.
Alberto Rudney: Eles estão mandando instruções de combate, isto é óbvio.
SOM DE IMPRESSÃO E VOZES AO FUNDO.
Anne Christaller: Ouça isto. É uma transmissão de rádio local. Eles estão fazendo um anúncio oficial.
VOZ DO RÁDIO.
À população do Rio de Janeiro.
A maior parte dos cidadãos do Rio de Janeiro está usando um dispositivo chamado gravipilha. Algumas pessoas inconseqüentes têm usado este equipamento de forma imprópria trazendo muitas perturbações a outras comunidades em todo o mundo. O uso apropriado, seguro e controlado das gravipilhas ainda não é conhecido, por isto, as Nações Unidas declararam proibido o uso geral deste aparelho por tempo indeterminado.
Foi considerado um crime contra a humanidade o uso de tal equipamento. Por causa disto as Forças Aliadas das Nações Unidas requerem que qualquer um que possua uma gravipilha interrompa o seu uso e a dê à mais próxima autoridade local. Se isto não for feito em 48 horas os países aliados não terão outra escolha senão confiscar as gravipilhas usando os meios necessários para tal. Qualquer resistência contra as forças das Nações Unidas serão firmemente respondidas.
SOM DE PAPEL SENDO RASGADO E MANIPULADO.
Alberto Rudney: Eles estão preparando a invasão, está escrito aqui.
Anne Christaller: Eles também pretendem bombardear a cidade, veja. Eles definiram alvos na periferia para assustar a população.
Alberto Rudney: É uma operação de guerra prá valer.
Anne Christaller: Eles marcaram quando atacarão.
Alberto Rudney: 72 horas desde agora. Haverá tropas aerotransportadas vindo de regiões vizinhas. Já estão em marcha.
Anne Christaller: O que se pode fazer para detê-los? Alberto você pode fazer algo com a gravipilha?
Alberto Rudney: O que, por exemplo? Como o Robertinho disse, destruir um navio de guerra num piscar de olhos?
Anne Christaller: Não! Isto não! Alguma coisa efetiva, mas não mortal.
PAUSA
Alberto Rudney: Não tenho muita certeza, mas acho que podemos dispersar a frota.
PAUSA. SOM DE FUNDO DA VOZ DE ROBERTINHO NO RÁDIO.
Sim, podemos mover os navios para outros lugares, mas primeiro precisamos localizá-los e então ir até lá com a gravipilha e abrir um portal à frente de cada navio para outro lugar. Isto pode levar algum tempo e precisamos de gente. Não temos nenhum deles em abundância.
Anne Christaller: Como posso ajudar?
Alberto Rudney: Bem… Acho que posso ensiná-la a localizar e monitorar os navios usando o radar gravitacional.
Anne Christaller: São dúzias de navios, como faremos a dispersão?
Alberto Rudney: Você está certa. Vamos precisar de ajuda. Vou tentar recrutar um grupo de pessoas confiáveis para podermos usar a gravipilha com força extra.
Anne Christaller: Então vá correndo.
Alberto Rudney: Ok. Vou levá-los para a praia onde estávamos para prevenir que saibam deste lugar aqui. Agora, para usar o radar gravitacional é muito simples…
MÚSICA DE SUSPENSE ENQUANTO AS VOZES DIMINUEM.
Narrador: O mundo estava conectado nos aparelhos de rádio e TV ouvindo a entrevista de Robertinho Brown. Na ponte de comando do HMS Conqueror finalizavam-se os planos para atacar a cidade do Rio de Janeiro.
TEMA MUSICAL DO RIO.
Enquanto isso no coração de uma praia tropical Alberto Rudney e sua recém recrutada força tarefa com cerca de vinte pessoas, reunem-se para preparar o contra ataque à frota. Alberto sumariou a situação e instruiu-os ainda mais uma vez
Alberto Rudney: Vocês usarão uma segunda gravipilha com força incrementada. Elas já estão programadas para levar cada um de vocês para um navio específico. Uma vez lá tudo que devem fazer e apertar o botão vermelho da segunda gravipilha e deixá-la no convés. Vocês serão trazidos de volta imediatamente a esta praia. Não tentem de maneira nenhuma confrontar-se com a tripulação. Se acontecer uma situação crítica, como por exemplo, vir-se cercado por soldados, simplesmente retornem. Aguardem aqui a luz verde para irem. Tudo certo, alguma dúvida?
Todos ao mesmo tempo: Prontos!
Alberto Rudney: Cuidem-se. Voltarei para o QG. Se não acender a luz verde isto quer dizer que não haverá a missão. Vejo-os mais tarde. Boa sorte!
MÚSICA TRIUNFANTE SEGUIDA POR SONS DE BAIXÍSSIMA FREQÜÊNCIA SEGUIDO POR “ZAPS” COMO SEDA SENDO RASGADA.
Anne Christaller:
COM ALEGRIA.
Alberto! Como foi com o grupo?
Alberto Rudney: Perfeito. Elas são pessoas corajosas. Como fomos com o graviradar?
Anne Christaller: Maravilhosamente. Consegui plotar toda a frota. Veja você mesmo na tela.
Alberto Rudney: Bom trabalho. Que notícias temos de Robertinho e George?
Anne Christaller: Devem estar chegando. As notícias não são reconfortantes. Acabo de ouvir um político declarar que tudo isto não passa de uma maquinação dos países ricos para desvalorizar o preço do petróleo. Ele pede uma ação imediata ou haverá um boicote dos países produtores. Há notícias também sobre as tropas aerotransportadas; elas foram vistas já nos limites da cidade.
Alberto Rudney: Não nos resta muito tempo. Vamos logo com isto. Mande o sinal; não todos de uma vez. Daremos um minuto de intervalo para cada um. Pronta?
Ambos: Sim!
MÚSICA MARCIAL.
Narrador: A frota estava em alerta máximo. Tinham ordens para apoiar as tropas invasoras. Os mísseis estavam armados e os aviões decolavam. Os esforços de George Woods e Robertinho Brown foram em vão. Na verdade, ambos enfrentavam problemas nos estúdios da WBS.
PASSOS CORRENDO.
George Woods: Vamos Robertinho, temos de encontrar Gordon.
Robertinho Brown: Quem é Gordon?
George Woods: Meu patrão. O produtor executivo da WBS. Foi ele que concordou em colocá-lo no ar.
Robertinho Brown: E onde estará?
George Woods: Vamos ver no seu escritório. Aqui! Gordon!
SONS DE PASSOS, ALGUNS GRITOS AUMENTANDO DE VOLUME; PORTA SE ABRINDO.
Gordon: Woods! Deus do céu! Eles estão vindo para prendê-los! Precisam fugir!
Robertinho Brown: Ho, ho, ho! Eles não têm a gravipilha.
SONS DE DISCUSSÃO, PALAVRÕES SENDO GRITADOS; PORTAS SENDO VIOLENTAMENTE ABERTAS E FECHADAS.
Voz: Lá estão eles pegue-os!
MOVIMENTO DE PESSOAS E SONS DE MÓVEIS SENDO DERRUBADOS; VIDROS QUEBRANDO E LUTA.
Robertinho Brown:
URRANDO.
Ooh! Ho, ho! Eu não, meu senhor!
SOM DE BOFETADA SEGUIDO POR UM BAQUE SURDO.
Gordon: Você acertou o Inspetor!
George Woods: Tire suas mãos de mim!
MAIS SONS DE LUTA E OUTRO BAQUE SURDO.
Gordon: Vocês enlouqueceram? Atacaram os policiais!
Robertinho Brown: Eles atacaram primeiro.
George Woods: Vamos embora daqui. Venha conosco Gordon.
Gordon: Não vou a lugar algum; não fiz nada de errado.
George Woods: Bom rapaz. Vejo-o mais tarde. Sabe onde me encontrar.
MÚSICA DE SUSPENSE E UM SOM DE BAIXÍSSIMA FREQÜÊNCIA SEGUIDO POR UM “ZAP” COMO SEDA SENDO RASGADA.
Anne Christaller, Alberto Rudney: Robertinho! George!
SOM DE PESSOAS SE MOVENDO; VOZES VINDO DOS AUTO FALANTES.
George Woods: O que está acontecendo?
Anne Christaller: É a esquadra. Eles estão muito confusos.
George Woods: O que você fez?
Alberto Rudney: É melhor eu explicar tudo.
AS VOZES SE ESVANECEM; SURGE UM FUNDO MUSICAL COM SONS DE EMERGÊNCIA
.
Narrador: A frota estava deveras numa confusão muito, muito grande. No posto de comando do HMS Conqueror, alguns minutos antes, coisas estranhas começaram a ocorrer.
SONS DO POSTO DE COMANDO. APITOS, ORDENS, ETC…
Capitão Belfort: 1O Oficial dê a posição e o curso.
1o Oficial: 40o W, 22o S. 350 km do Rio, 100 km da costa, Curso, 230o SW, 25 nós, Senhor.
Capitão Belfort: Relate o estado da missão.
1O Oficial: Temos 16 aviões prontos. Decolam ao comando.
Capitão Belfort: Adiante.
SONS DE VOZES NOS INTERFONES. MOTORES DE AVIÕES SOANDO.
1O Oficial: 10 mísseis prontos para disparo dirigidos aos alvos declarados. Mísseis prontos para o disparo ao comando.
Capitão Belfort: Aguardem a ordem.
SOM DE VOZ DE COMANDO NO INTERFONE, OUTROS SONS.
1O Oficial: Senhor. Relato do comandante das tropas em terra.
Voz no interfone: Aqui é o Coronel Hargreaves. Estamos a 50 km da cidade e prontos para entrar em ação. Confirmem o cronograma.
Capitão Belfort: Cronograma confirmado. Estamos no horário. Aguarde ordens. Relatório do convés.
SOM DE RÁDIO OPERANDO. .
1O Oficial: Oito aviões decolaram, Senhor.
ALARME DE EMERGÊNCIA; VOZES GRITANDO.
Voz no interfone: Invasores no convés; na proa!
CONTINUA O ALARME DE EMERGÊNCIA; VOZES GRITANDO EM CONFUSÃO.
Capitão Belfort: Relatório!
SOMENTE ESTÁTICA.
Voz no interfone: Invasão não confirmada.
Capitão Belfort: Alerta a frota! Mantenham as operações.
SOM DE ONDAS QUEBRANDO, UM GUINCHAR SEGUIDO POR COISAS ROLANDO E OBJETOS CAINDO. VOZES GRITANDO ALTO.
1O Oficial: Batemos em algo! Estamos adernando!
Capitão Belfort: Que diabo está acontecendo? Relatório de ocorrências.
SOMENTE O SOM DO RÁDIO E DE OBJETOS ROLANDO PELO CHÃO.
Capitão Belfort: 1O Oficial, suspenda as operações até descobrirmos o que aconteceu. Contacte a frota.
SOMENTE VOZES NO RÁDIO.
1O Oficial: Capitão… relatório da navegação.
Voz no interfone Senhor nós temos um problema…
SILÊNCIO.
1O Oficial: Senhor, nós perdemos o contacto com a frota.
Voz no interfone: Temos coordenadas estranhas, Senhor.
Capitão Belfort:
GRITANDO.
O que?
Voz no interfone: Pelos nossos registros estamos a 50o W, 0º.
Capitão Belfort: O que?
Voz no interfone Parece que estamos no delta do rio amazonas.
Capitão Belfort: Onde?
Voz no interfone: Talvez o sistema de satélites não esteja operando bem; estamos à deriva.
Capitão Belfort: Verifique o sistema e confirme o curso.
1O Oficial: Senhor, perdemos o contacto com as aeronaves.
Voz no interfone: Senhor, não há dúvida, estamos no delta do amazonas.
Capitão Belfort: Contacte o comando em terra!
Voz no interfone: Já o fizemos, Senhor. Eles confirmaram nossa posição, 50º W, 0º. Nossa rota é 230o NW, 15 Nós.
Capitão Belfort: Isto é loucura! Ponha-me em contacto com o Lorde Almirante Wellington.
SOM DE RÁDIO SENDO SINTONIZADO, VOZES EM SURDINA FALANDO ALGO.
1O Oficial: Lorde Almirante Wellington na linha, Senhor.
Capitão Belfort: Bom dia Lorde Almirante. Aqui é o Capitão Belfort. Senhor, estamos numa situação muito estranha, após termos batido em alguma coisa, de acordo com nossos registros nós estamos…
Lorde Almirante Wellington: … No delta do rio amazonas.
PAUSA.
É isto mesmo. Vocês estão aí. Toda frota foi dispersada. Temos navios no oceano pacífico, no ártico e até no Loch Ness.
PAUSA.
Capitão Belfort: O que fazer agora, Senhor?
PAUSA.
Lorde Almirante Wellington:
VOZ MUITO ZANGADA, COM A MÚSICA SUBLINHANDO AS PALAVRAS.
Lhes daremos outra rota.
PAUSA.
Eles não nos derrotarão, eu juro!
MÚSICA MUDA PARA SONS DE FESTA.
Narrador: Enquanto isto, numa agradável praia que está sendo usada como base para a força de contra ataque do Rio, todos se juntam para celebrar a vitória sobre a frota. As tropas de terra recuaram, nenhum bombardeio ocorreu. As estações de rádio e TV estavam dando as notícias da repercussão internacional da derrota da frota.
MÚSICA DE SUSPENSE MUDANDO PARA DRAMÁTICA.
Os cidadãos estavam usando a gravipilha inconseqüentemente de tal forma que não havia lugar interessante no mundo, nas últimas horas que não estivesse cheio de visitantes alegres.
O mundo estava atônito, dividido em suas opiniões sobre os últimos eventos. O mesmo podia ser dito sobre os principais governantes do mundo, líderes religiosos e econômicos, os quais profundamente preocupados pediam uma reação imediata. Suas invectivas através dos meios de comunicação mostravam contrariedade e beligerância.
TEMA MUSICAL.
Alguns dias mais tarde, Woods, Anne, Alberto e Robertinho Brown discutiam os últimos eventos. Eles viam a vitória ocasional sobre a frota virar uma preocupação ainda maior à medida que as notícias chegavam. Era uma situação muito delicada.
George Woods: As coisas estão ficando piores. Devemos nos preparar para outro ataque e desta vez será mais duro ainda.
Anne Christaller: Você acha que eles poderiam usar armas nucleares?
George Woods: Como saber? Nestes dias nós nem sabemos quem tem esta condição. Imagine se algum grupo radical apoiado por estes países que fizeram parte de potências nucleares decidirem usá-las?
Robertinho Brown: Podemos retaliar nos mesmos termos.
George Woods: O que você quer dizer?
Robertinho Brown: A gravipilha tem imensos poderes e possibilidades. Se eles fizerem algum mal nós podemos retaliar numa dimensão muito pior. Mas esta lógica é tudo o que o Prof. Barbeitos detesta.
Alberto Rudney: Não podemos apenas sentar e esperar. As pessoas podem ser prejudicadas. E se eles resolvem ameaçar com armas nucleares?
Robertinho Brown: Não penso que sejam tão loucos assim, mas você está certo, temos de contra atacar seja lá o que fizerem, não necessariamente com violência. Podemos bloquear os suprimentos de energia, as comunicações, forçá-los a negociar.
Anne Christaller: Acho que no momento temos de evitar qualquer prejuízo às pessoas.
PAUSA.
Vocês pensaram em lhes dar os segredos da gravipilha?
Alberto Rudney e Robertinho Brown: Não!
Robertinho Brown: Só o Prof. Barbeitos tem o direito de decidir isto.
George Woods: Pode ser, mas os problemas foram provocados por ele.
Anne Christaller: Precisamos de um plano para enfrentar a situação.
George Woods: A população deve ser advertida e estar preparada para as conseqüências. O que diremos a eles?
PAUSA.
Robertinho Brown: Você tem razão, provocamos tudo isto e agora não temos a solução.
VOZES DESANIMADAS CONCORDANDO.
Já é tarde. Nada que decidirmos hoje vai resolver qualquer coisa. Devemos convocar uma reunião do grupo para decidirmos o que fazer.
A MÚSICA FICA MELANCÓLICA E VAI MUDANDO PARA A VINHETA DA WBS.
Gordon Hut: Bom dia. Eu sou Gordon Hut e este é o boletim matutino da WBS.
As Nações Unidas após vários dias de intensos debates decidiu realizar uma grande operação para ocupar a cidade Rio de Janeiro, a única maneira, dizem os analistas, para evitar medidas mais drásticas.
MUDANDO O ASSUNTO.
Os mercados de bolsas de valores sofreram os efeitos da última crise da gravipilha, como está sendo conhecido o assunto. Após semanas de baixas espetaculares as ações das companhias de petróleo e energia reagiram e subiram. Parte desta reação é devida ao anúncio da decisão de invadir a cidade do Rio a qualquer custo. Notícias da cidade dão conta que a população está devolvendo às autoridades suas gravipilhas temendo futuras conseqüências.
MUDANDO O ASSUNTO.
Cientistas reunidos em Genebra lançaram um apelo às autoridades das Nações Unidas para que a tecnologia da gravipilha e outros conhecimentos resultantes sejam preservados e colocados à disposição da comunidade científica. Eles temem que as grandes potências iniciem uma corrida para controlar esta tecnologia e que seu uso fique restrito ao emprego militar.
VINHETA DA WBS.
Esta foi a edição da manhã da WBS. Eu sou Gordon Hut. Bom dia.
TEMA MUSICAL DO RIO.
Narrador: Os dias passaram e a situação andava muito mal no Rio. A maioria da população já devolvera suas gravipilhas. A cidade sofria da escassez de víveres e serviços. As Nações Unidas criaram um comitê especial para o Rio, tentando melhorar a situação e todo transporte era provido pelos meios convencionais. Os navios voltaram aos portos, mas não davam conta das carências. Robertinho, Woods, Anne e Alberto, decidiram desabilitar as gravipilhas exceto algumas que pertenciam ao pequeno grupo de resistência organizado por eles.
Durante aquele tempo encontravam-se numa agradável praia em algum lugar da América do Sul para traçarem seus planos de ação.
TEMA MUSICAL DO RIO. VOZES DO AUTO FALANTE.
Robertinho Brown: Estamos hoje aqui para traçarmos nossa estratégia à vista dos fatos recentes. Alberto e Anne nos farão um breve relato da situação. Por favor, Alberto.
SOM NORMAL COM ALGUM ECO.
Alberto Rudney: Eu gostaria primeiramente de elogiar todos vocês pela coragem de estarem aqui lutando pelo que já estamos chamando de nossa causa. Somos algumas centenas hoje, mas temos duas armas poderosas, a gravipilha e a disposição de não deixá-la cair em mãos erradas. Todas as gravipilhas exceto as nossas foram desabilitadas e nossas posições são seguras. Anne, por favor, relate-nos as últimas ações.
Anne Christaller: Estamos interferindo com a programação regular das Tvs e rádios bem como na Internet, mandando nossa propaganda. Estamos mantendo a população informada sobre nossas intenções e ações. Penso que está sendo bem sucedido pois os debates estão se acirrando em torno do direito ao uso do controle gravitacional. Devemos alimentar a controvérsia a fim de estimular o diálogo.
De fato, cientistas, líderes comunitários e religiosos começam a recuar de suas posições hostis iniciais temendo a apropriação de tal tecnologia por grupos não confiáveis. Alguma sugestão?
Voz da audiência: Alguns de nós foram identificados e expostos em cartazes públicos como criminosos. Suas famílias têm sido desde então ameaçadas ou perturbadas ao ponto de terem de se esconder. Sabemos que estão agora em segurança, mas não podemos nos tornar fugitivos em nossa própria casa. Isto está baixando o moral do grupo. Não deveríamos proceder a uma ação mais vigorosa? Concordo em não usar a violência, mas não podemos ficar passivos, temos de combater.
VOZES DE APROVAÇÃO.
George Woods: Entendo e concordo com vocês, mas precisamos ser mais inteligentes do que eles. Devemos ganhar primeiro o apoio do público. Continuaremos a usar a gravipilha para ajudar os outros e evitar o seu mau uso. Há dois dias resgatamos milhares de pessoas de uma enchente no delta do rio Ganges. Tentaram censurar os meios de comunicação, mas conseguimos divulgar o fato e todo mundo soube do acontecido. Devemos insistir nisto, é muito cedo para tentarmos medidas mais agressivas.
Voz da audiência: Não estamos lutando para nos tornarmos uma nova irmandade de caridade, estamos lutando pela liberdade!
HURRAS DE APROVAÇÃO.
Robertinho Brown: Não posso negar o que disse, mas devemos ser um grupo respeitável.
VOZES CONCORDAM. MURMÚRIOS NA AUDIÊNCIA. ALGUNS PROTESTOS.
Voz da audiência: Por quanto tempo vamos brincar de escoteiros?
RISOS NA AUDIÊNCIA.
Outra Voz: Vamos usar uniformes ou ter bandeiras e hinos?
MAIS RISOS.
Outra Voz: Devemos atacá-los já!
Muitos: Sim! É isso aí. Vamos pegá-los!
Anne Christaller:
GRITANDO.
Por favor, acalmem-se!
George Woods:
SUSSURRANDO PARA OS OUTROS.
Isto está ficando sério. Que faremos agora?
SOM DE BAIXÍSSIMA FREQÜÊNCIA SEGUIDO POR UM “ZAP” COMO SEDA SENDO RASGADA.
Robertinho Brown: O que é isto? Quem poderia ser? Nós fechamos o controle gravitacional, não fechamos?
Alberto Rudney: Vejam!
TEMA MUSICAL DO RIO BEM ALTO SEGUIDO POR UMA CODA DE SUSPENSE.
Robertinho Brown, Alberto Rudney:
GRITANDO.
Professor Barbeitos!
Anne Christaller, George Woods: É realmente ele?
DELÍRIO NA AUDIÊNCIA E FINALMENTE SILÊNCIO, POR FIM UMA VOZ DO AUTO FALANTE.
Prof. Barbeitos: Olá, todos vocês!
HURRAS DA AUDIÊNCIA. SILÊNCIO.
Tenho acompanhado a situação desde o começo. Vocês não devem pensar que eu me eximi da responsabilidade sobre o que aconteceu. Embora não seja a ocasião para longas explicações, o que me impediu de estar aqui mais cedo valeu o atraso. Se todos estão admirados com o poder da gravipilha, tudo o que posso dizer é que isto é apenas um detalhe do que pode ser feito.
PAUSA.
Mas, isto é para ser discutido numa outra ocasião, agora nós temos de colocar um fim nesta disputa pela gravipilha. Não há retorno ao passado após sua invenção. Pertence à humanidade e todos merecemos seus benefícios.
HURRAS DA AUDIÊNCIA. PAUSA.
Agora, ouçam atentamente o que podemos fazer.
TEMA MUSICAL DO RIO MUDANDO PARA MÚSICA APOTEÓTICA ENQUANTO A VOZ DO PROF. BARBEITOS DESAPARECE.
Narrador: Prof. Barbeitos explicou para uma platéia eletrizada seu plano audacioso. A reunião terminou numa explosão de alegria que inspirou a todos. Deixaram o local, cada um com uma missão e puseram-se em ação imediatamente.
Gordon Hut, assim como outros jornalistas ao redor do mundo, estava verificando as informações para preparar seu boletim de notícias. Onde houvesse um jornalista como Gordon, ouviu-se um som de baixíssima freqüência seguido por um Zap, como seda sendo rasgada.
SOM DE BAIXÍSSIMA FREQÜÊNCIA SEGUIDO POR UM “ZAP” COMO SEDA SENDO RASGADA.
De fronte a eles abriu-se uma porta gravitacional. Gordon, como muitos outros, não se surpreendeu tanto, pois afinal já havia visto isto acontecer outras vezes. No entanto ele viu sair em seu gabinete um senhor já algo idoso, Anne Christaller e George Woods.
PASSOS.
Anne Christaller: Gordon. Deixe-me apresentá-lo ao Prof. Barbeitos.
PAUSA.
Prof. Barbeitos, Gordon Hut.
Prof. Barbeitos: Sr. Gordon, é um prazer.
Gordon Hut: Jesus! É ele!
PAUSA.
Oh, muito prazer Professor Barbeitos.
Prof. Barbeitos: Pode apostar meu caro. Não temos um minuto a perder meu jovem. Você me entrevistará e acredite-me isto mudará a história.
Gordon Hut:
HESITANDO.
Bem… Isto é um tanto inesperado… Posso ao menos saber do que se trata?
Prof. Barbeitos: Claro. Vamos anunciar algo que colocará um ponto final nesta crise e você será aquele que comunicará isto. Então?
Gordon Hut:
AINDA HESITANDO.
Oh! Sim… Claro… Mas…
George Woods: Vamos Gordon, se você recusar ele irá para outra estação, na verdade será uma cadeia mundial.
Gordon Hut: Uma cadeia mundial? Como…
PAUSA.
Ah, sim… Ha! Ha! Ha! A gravipilha, claro… Porque não, não é?
PAUSA.
Prof. Barbeitos: Então? Vamos?
Gordon Hut: Sim, sim. Vamos.
PASSOS, PORTAS ABRINDO E FECHANDO, VOZ NO MICROFONE, RUÍDOS DE ESTAÇÃO DE RÁDIO.
Gordon Hut: Controle. Vamos por no ar uma edição extra imediatamente. Aprontem-se.
VINHETA MUSICAL DA WBS .
Gordon Hut: Boa tarde. Eu sou Gordon Hut e esta é uma edição especial do noticiário da WBS, hoje em rede mundial. Conosco em nossos estúdios o Prof. Barbeitos, inventor da gravipilha, pivô da recente crise do Rio de Janeiro. O Professor, ele mesmo, explicará aos nossos ouvintes o que pretende fazer para por um ponto final nesta disputa. Prof. Barbeitos, bem vindo e boa tarde, porque somente agora o senhor veio a público?
Prof. Barbeitos: Obrigado Sr. Gordon e boa tarde para todos que me ouvem. Primeiramente quero esclarecer que alguns fatos muito importantes interferiram com o meu desejo de estar aqui desde o início dos acontecimentos, entretanto meus assistentes, com a ajuda de algumas pessoas de boa vontade enfrentaram muito bem a situação, ninguém faria melhor.
Vim pessoalmente hoje para anunciar uma decisão muito importante. Ao longo destes meses, vendo o impacto que a minha invenção teve sobre o cotidiano das pessoas em todo o mundo, fiquei convencido que isto foi um grande benefício à humanidade, indubitavelmente, e que não deve haver nenhuma restrição a quem quer que seja em ter acesso a esta maravilhosa ferramenta e todas as suas possibilidades. No entanto permanece a questão. Como usá-la prudente e seguramente?
Bem, não tenho resposta para isto e penso que ninguém a tem. O controle da gravidade é uma chave que pode abrir tanto os portões do paraíso como do inferno, depende de nós escolhermos o caminho.
TEMA MUSICAL DE FUNDO.
Portanto, desde o início desta transmissão, em milhares de cidades, por todo o mundo, vocês encontrarão alguém do Rio de Janeiro, distribuindo a gravipilha. Pegue uma, é sua. Ela lhe fornecerá energia por tempo indefinido e permitirá que você viaje por todo o mundo a toque das pontas do dedo.
Ao mesmo tempo, eu convido os mais proeminentes cientistas a encontrarem-se comigo a fim de serem instruídos na tecnologia e na física do controle da gravidade.
Sejam prudentes e respeitosos com o seu semelhante. Muito obrigado e tenham um bom dia.
VINHETA DA WBS.
Gordon Hut: Cristo! Estou sem fala.
Prof. Barbeitos: Obrigado Sr. Gordon. A propósito, aqui está a sua gravipilha.
TUMULTO NO ESTÚDIO. TODOS TENTANDO FALAR COM O PROF. BARBEITOS.
Anne Christaller: Ei pessoal! Façam fila, há gravipilhas para todos.
Prof. Barbeitos: É melhor irmos para o laboratório, há muito que fazer ainda.
Todos: Vamos.
SOM DE BAIXÍSSIMA FREQÜÊNCIA SEGUIDO POR UM “ZAP” COMO SEDA SENDO RASGADA.
TEMA MUSICAL DE FUNDO.
Robertinho Brown, Alberto Rudney: Olá pessoal. Venham ver, milhões de gravipilhas já estão em funcionamento.
Anne Christaller: O mundo vai virar um pandemônio!
George Woods: Será que vai dar certo?
Prof. Barbeitos: Tem que dar, ou não merecemos isto. Eu confio na espécie humana.
Anne Christaller: Eu proponho um brinde.
Todos: À humanidade!
SONS DE TAÇAS TILINTANDO.
TEMA MUSICAL. CRÉDITOS.