REAÇÃO ADVERSA

Hip hop

88 BPM

Luiz F M Lima

 

Eu era um cara feliz,

No futuro nem pensava,

Saudável e sem problemas,

A juventude me bastava.

Se conto pra vocês

O que me aconteceu,

É preciso acreditar,

Numa história tão incrível,

Que é de arrepiar

 

 {Bis   –  É horrível! É horrível!

{Bis   –  Você vai se  apavorar !

 

 Pois feliz como eu estava

Nem ao menos eu pensava

Que um pequeno mal estar

Poderia me levar

À tragédia que lhes conto.

Parecia coisa à toa,

Um mau jeito, uma fisgada,

Uma coceira, um arrepio,

Um devaneio, um encosto,

Um mau-olhado, um calafrio.

 

{Bis   – Ta danado! Ta bichado!

{Bis    – Você tem que se tratar!

 

Pra tratar a disfunção

Fui de erva curativa,

Comprei um garrafão,

Que vendiam na esquina;

Fedia e amargava

Mas tomei dele todinho

Pra cortar aquela trava.

Esperei a melhoria,

Mas passado todo dia

Aumentava a agonia:

Dor nas juntas, boca amarga,

Diarréia, visão fraca;

Mais do troço eu bebia,

Pior aind´eu ficava.

 

{Bis   – Ta danado! Ta bichado!

{Bis    – Você tem que se tratar!

 

Vi que nada funcionava!

Me assustei e decidi

Que outra ajuda precisava.

Um remédio mais maneiro

Que bastasse o meu dinheiro.

Entrei logo na farmácia,

E achei o que queria,

Pois alguém com experiência,

Me atendeu com cortesia,

E disse, na maior sabedoria:

– Isto é verme, infecção e anemia;

Sem falar do coração

E da esquizofrenia!

Rapaz! É coisa séria,

Mas pra tudo há solução.

Tão seguro parecia,

O balconista gente fina,

Que gastei a maior grana

Pra comprar o que vendia:

Comprimido pra cabeça,

Xarope pro pulmão,

Pomada e vitamina,

Injeção pro coração;

Penicilina, vaselina,

Tipóia, gesso, algodão.

E tudo isso a que preço!

  

{Bis   – Otário! Bobalhão!

{Bis   – Gastando toda grana

{Bis   – Co’ aquele charlatão!

 

Mas agora a coisa ia!

E assim já fui tomando

Toda aquela porcaria.

De um dia a outro dia,

Fígado, rim, e baço,

A língua, o céu da boca,

Quase tudo me doía!

Eu tava mesmo um bagaço.

Sem a antiga energia,

Procurei de imediato,

Um doutor de faculdade,

Que usasse a ciência,

Mas será que isto existe

No SUS de emergência?

Cheguei cheio de medo

Pra pedir a medicina,

Mas quando ia falar

Do mal que me amofina,

Me mandaram pr’uma fila

Que virava na esquina.

Esperei o dia inteiro

Pra chegar a minha hora,

Mas o azar aconteceu,

O Doutor já ia embora.

Apelei pra sua bondade,

Que me tratasse agora.

Implorei. Por piedade!

 

Sem nem olhar pra mim,

Com tanta sabedoria,

Escreveu uma receita

E me falou com ironia:

– Arrume uma doença

Que se ajuste à prescrição.

Mas eu sou homem de fé

Na moderna medicina

E comprei o que podia.

Tanta droga a tomar

Que erro não havia.

Engoli o lote todo

Conforme a bula dizia:

“Pode tomar de montão,

Não há contra indicação.

Cura lumbago e azia,

Resfriado, catarreira,

Corrimento e caganeira;

Todo tipo de bobeira,

Brochura e comichão”.

 

{Bis   – Ai, quanta droga nova

{Bis   – Do jeito que me tratam

{Bis   – Vou logo para cova

 

Logo na primeira dose

Esperei, rezando forte,

Um alívio à minha sorte.

O tempo foi passando

E do jeito que estava,

A cada hora piorava.

O corpo todo supurado,

Espumando pela boca,

Tonto e amarelado.

As pessoas me olhavam,

Abanando a cabeça

E diziam desoladas:

“- Não passa desta tarde,

É melhor chamar o padre”.

 

{Bis   – Ave! Ave! Meu rapaz,

{Bis   – Vê se descansa em paz.

 

E num último esforço,

Mesmo tão desesperado

Liguei para o Doutor

Que havia me tratado.

Estava muito ocupado

Me deixou este recado:

“- O efeito é normal,

É só tomar dobrado”.

Temendo pela vida

Mas a alma preparada

Tomei mais do remédio,

Como havia me mandado.

E tudo que eu lembro

Ocorreu em um segundo:

Fiquei vesgo, entrevado

E caí já moribundo.

 

{Bis   – Ai, quanta droga nova

{Bis   – Do jeito que me tratam

{Bis   – Vou logo para cova

 

Hoje aqui no meu enterro

Já estando n’outro mundo

A me ver descendo à tumba

Ouço a turma comentando,

– Cacete! Não saiu dessa,

Foi reação adversa.

Era só o que faltava,

Pelo tudo que se viu.

Adversa? Uma ova!

É a puta que o pariu!

 

{Bis   – Quem entende do assunto?

{Bis   – Tomei tanto  remédio

{Bis   – Que hoje sou defunto